sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

GLOSANDO O MOTE



              Você Pode Aprender!
                      Compadre Lemos.

Amigos,

Numa tentativa de ajudar aos Compadres e às Comadres que estão começando, e querem muito aprender e colocar em prática as Regras do Cordel, fiz um resumo daTeoria.

Espero que seja útil.

Quaisquer esclarecimentos, estamos às ordens!

Teoria do Cordel - Resumo

1. - Sextilha: 


Talvez, por ser mais fácil, seja o gênero preferido pelos nossos repentistas, principalmente no início das apresentações. A Sextilha é uma estrofe com rimas pares, constituída de seis linhas - ou seis versos - de setesílabas.  Os versos de sete sílabas poéticas são chamadosheptassílabos.

Na Sextilha, rimam as linhas pares entre si, ( linhas 
A)
conservando as demais em versos brancos (linhas 
X  - sem rima obrigatória).

Assim, esquematiza-se a Sextilha, quanto à Rima:
XA
X
A
X
A

Leandro Gomes de Barros, grande escritor da Literatura de Cordel, filho de Pombal, Estado da Paraíba, escreveu:

X - Meu verso inda é do tempo 
A - Que as coisas eram de graça: 
X
 - Pano medido por vara, A -Terra medida por braça, 
X - E um cabelo da barba 
A - Era uma letra na praça

Outro exemplo que daremos é o do ceguinho anônimo, que, após a morte de sua desventurada mãe e guia, chorou, com os olhos rasos d'alma, seu infortúnio:

Já tive muito prazer,
Hoje só tenho 
agonia! 
Não sinto porque sou cego,
Eu sinto é falta do 
guia! 
Quando mamãe era viva,
Eu era um cego que 
via!2. - Sete Linhas, Sete Pés, Septilha ou Setilha. 

No início do século atual, o cantador alagoano Manoel Leopoldino de Mendonça Serrador fez uma adaptação à Sextilha, criando o estilo de sete versos, também chamado de sete linhas ou de sete pés, rimando os versos pares até o quarto, como na Sextilha; o quinto rima com o sexto, e o sétimo com o segundo e o quarto.

Esquematizando, fica:
XA
X
A
B
B
A

Exemplifiquemos com o próprio criador do gênero:

Amigo José Gonçalves,
Amanhã cedinho, 
 
A Coatis, onde reside.
Compadre João 
Pirauá,
Diga a ele dessa 
vez, 
Que amanhã é fim de 
mês,
Deus querendo, eu chego 
lá! 

José Duda do Zumbi (Manoel Galdino da Silva Duda), no ocaso da vida, com a experiência da idade, disse para José Miguel, jovem companheiro, com quem duelava:

Fui moço, hoje estou velho!
Pois o tempo tudo 
muda! 
Já fui um dos cantadores
Chamado Deus nos 
acuda ... 
Este que estão vendo 
aqui 
Foi Zé Duda do 
Zumbi! 
Hoje Zumbi do Zé 
Duda! 
3 - Décima de Sete Pés 

Embora de origem clássica, é a Décima um estilo muito apreciado, desde os primórdios da Poesia Popular, principalmente por ser o gênero escolhido para os motes, onde os cantadores fecham cada estrofe com os versos da sentença dada, passando a estrofe a receber a denominação de glosa.

Por isso, "glosar um mote" significa: "fazer uma estrofe usando a métrica e a rima de um mote"

Como o próprio nome diz, Décima é uma estrofe de dez versos de sete sílabas, assim distribuídos: o primeiro, rima com o quarto e o quinto; o segundo, com o terceiro; o sexto, com o sétimo e o décimo, e o oitavo, com o nono. Podemos assim representar essa distribuição: 
B BA A C C D D C, ou ainda, na vertical:AB
B

A
A
C
C

D
D

C


De Antônio Ugolino Nunes da Costa (Ugolino do Sabugi), primeiro grande Cantador brasileiro, extraímos esta estrofe, em Décima, de seu famoso poema "As Obras da Natureza":


A - As obras da Natureza - São de tanta perfeição, 
B - Que a nossa imaginação 
A - Não pinta tanta grandeza!
A - Para imitar a beleza 
C - Das nuvens com suas coresC - Se desmanchando em louvores D - De um manto adamascado
D - O artista, com cuidadoC - Da arte aplica os primores
Nota: O Mote

O Mote
 é uma sentença ou pensamento, formado de um ou dois versos, com que se finalizam as estrofes.
O Mote serve também para se dar o tema da estrofe, pois é sobre o seu conteúdo que se deve versar.
Uma estrofe que responde a um Mote passa a se chamar“Glosa”.

Exemplo: Mote de duas linhas ou dois versos:

“Quem não veio por amor
Aqui não deve ficar”.


Glosa:

Milagre, na Cantoria
É o tinir da viola!
O Cordel é uma escola
De paz, amor e harmonia!
Seja noite, seja dia,
Prosseguimos a cantar
E o verso vem expressar
Nosso carinho ao labor...
Quem não veio por amor
Aqui não deve ficar!
4 - Martelo Agalopado 

Martelo Agalopado atual, criação do genial violeiro paraibano Silvino Pirauá Lima, é uma estrofe de dez versos, em decassílabos, ( versos de dez sílabas poéticas ) obedecendo à mesma distribuição de rimas dos versos da Décima. (B B A A C C D D C ),

A - Quando as tripas da terra mal se agitam, 
B - E os metais derretidos se confundem, B - E os escuros diamantes que se fundem, 
A - Da cratera ao ar se precipitam.
A - As vulcânicas ondas que vomitam 
- Grossas bagas de ferro incendiadoC - Em redor, deixam tudo sepultado 
D - Só com o som da viola que me ajuda, 
D - Treme o sol, treme a terra, o tempo muda, C - Eu cantando Martelo agalopado.5 - Galope a Beira-Mar

Gênero muito apreciado pelos Apologistas da Poesia Popular que, juntamente com o Martelo, recebeu a denominação de “Décima de Versos Compridos”.

O Galope a Beira Mar é assim chamado em virtude de ser empregado mais em temas praieiros e ter um ritmo que se assemelha ao galopar de um cavalo.

É constituído de estrofes de dez versos de onze sílabas, (Versos Endecassílabos ) seguindo a mesma distribuição de rimas da Décima, (B B A A C C D D C ), sendo queo último verso deve, invariavelmente, terminar com a palavra MAR

Foi criado pelo violeiro cearense José Pretinho, filho de Morada Nova, vaqueiro do "coronel" José Ambrósio, falecido em Lavras da Mangabeira. Contam que José Pretinho, após levar uma surra, em Martelo, de Manoel Vieira Machado, Cantador piauiense, veio a Fortaleza e, na Praia de Iracema, observou o mar, cujo movimento das ondas se parecia com o galope dos cavalos da fazenda do "coronel" Ambrósio. Criado o estilo, procurou o adversário para a desforra. Deixou-o aniquilado. Mergulhão de Sousa divulgou o gênero por todo o Nordeste. Dimas Batista, cantando no Teatro Santa Isabel, em Recife, improvisou sob aplausos:

A - Cantando um Galope ninguém me humilha, 
B - Pois tudo o que existe no mar aproveitoB - Na ilha, no cabo, península, estreito,
A - Estreito, península, em cabo e na ilha,
A - Navio, lá na proa, em bússola e milha! 
C - Medindo a distância eu vou viajar
- Não quero, da rota, jamais me afastarD - Porque me afastando o destino saí tortoD - Confio em Deus pra avistar o meu portoC - Cantando Galope na beira do mar!6 - Metrificação e Ritmo

Métrica ou Metrificação é a arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos.

A métrica é obtida pela contagem das sílabas poéticas
 e o ritmo é obtido pelas cesuras. (Sílabas tônicas, obrigatórias, nos versos).

Deve-se observar, a princípio, que a contagem de sílabas poéticas difere, em função do ritmo, da contagem de sílabas gramaticais. 

Assim, o verso “ Milena chega em novembro”,gramaticalmente, tem nove sílabas:

( Mi le na che ga em no vem bro).

Mas, na contagem poética ( que obedece ao ritmo do canto ou declamação do verso) encontramos apenas setesílabas poéticas:
Mi le na che gaem no vem ( bro).

Vamos entender melhor essa divisão, ao estudarmos as regras abaixo:
Regra 1 – Contam-se as sílabas poéticas somente até a sílaba tônica da última palavra do verso.

Ou seja: não se contam as sílabas que estiverem depoisda sílaba tônica da última palavra do verso.

A última sílaba que se conta é a tônica da última palavra. Ex.- 7 Sílabas:

Eu vi mi nha mãe re zan (do) 7
Aos pés da Vir gem Ma ri (a) 7
E rau ma San taes cu tan (do) 7
O queou tra San ta di zi (a) 7

Oservação: A sílaba entre parêntesis (...) não é contada, porque é uma sílaba final átona ( não tônica).
Regra 2 - Embebimento – Junção de Vogais:

Quando uma palavra termina por vogal átona e a seguinte começa por vogal ou ditongo, pode-se contar como uma sílaba só. Diz-se que houve embebimento de uma sílaba na outra. Ex.:

Ouvindo a fala ao vento. OU VIN DOA FA LAO VEN (to) = São seis sílabas poéticas.

Fazer o amor ser verdade – FA ZER OA MOR SER VER DA (de) = sete sílabas poéticas.

Meu compadre, atenção, que eu vou dizer – MEU COM PADREA TEN ÇÃO QUEEU VOU DI ZER = Dez sílabas poéticas.

Eu nunca falei da sentença do amor – EU NUN CA FA LEI DA SEN TEN ÇA DOA MOR = Onze sílabas poéticas.
Regra 3 - Hiatos e ditongos - Sinérese e Diérese

Para atender à métrica, hiatos podem transformar-se em ditongos (Sinérese) e ditongos podem transformar-se em hiatos (Diérese)

Exemplos:
Su-a-ve por Sua-ve (3 viram 2)

Ouvimos suave canto - OU VI MOS SU A VE CAN (to) = 7 sílabas

ou OU VI MOS SUA VE CAN (to) = 6 sílabas

Sau-da-de por Sa-u-da-de (3 viram 4)

A SA U DA DE MA TA DEI (ra) = 8 sílabas.

A SAU DA DE MA TA DEI (ra) = 7 Sílabas
Cesuras

Não esqueça que o que dá ritmo à poesia são as cesuras. (Sílabas Tônicas)

Cesuras são as sílabas tônicas que devem existir obrigatoriamente no interior dos versos.

Fazer com que as sílabas tônicas das palavras escolhidas para compor os versos coincidam com as tônicas originais do estilo em que se está versando ( cesuras), é a tarefa mais difícil para o poeta.

Exemplos: 

Heptassílabos: ( versos de sete sílabas, usados nas trovas, quadras, sextilhas, septilhas e décimas de sete pés)

Eu vou cantar o meu verso -- Eu 
vou can tar o meu ver ( so)
Bonito como ele só -- Bo 
ni to co moe le 

Falando do Universo -- Fa 
lan do do U ni ver
 ( so )
Que é feito de pedra e pó. -- Queé 
fei to de pe drae 


Devem ser tônicas: a 
 e a  sílabas. ( 2 e 7)
Decassílabos( Versos de dez sílabas, usados no Martelo Agalopado)

Muito tempo depois de Ele nascer, -- Mui to tempo de pois deE le nas cer Compuseram a prece pra Maria -- Com pu se ram apre ce pra Ma ri (a)

Devem sempre ser tônicas: a , a  e a 10ªsílabas. ( 310 ).

Endecassílabos ( Versos de onze sílabas poéticas, usados no Galope à Beira Mar).

Eu vou por estradas traçadas no vento -- Eu voupor es tra das tra ça das no ven ( to )
Montado no dorso alado de um verso! -- Mon ta do no dor so a la do deum ver ( so )

Devem ser tônicas: a , a , a  e a 11ªsílabas. ( 2, 5, 8 e 11 ).

Nota final:

Desenvolvemos um método simples de se aprender, pelo ritmo da declamação, onde se localizam as tônicas dos estilos de Cordel estudados neste trabalho:

Basta numerar as sílabas do Estilo e declamar a seqüência numérica, dando ênfase nas tônicas;

Assim:

Heptassílabos: ( Sextilhas, Septilhas e Décimas de Sete Pés)

2 3 4 5 6 7

Decassílabos ( Martelo Agalopado )

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 

Endecassílabos ( Galope à Beira Mar )

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Pesquisa: 
*L* Compadre Lemos
luzcar@oi.com.br
Fontes:
Academia Brasileira de Literatura de Cordel 
http://www.ablc.com.br/index.htmJornal de Poesia – Cordelhttp://www.revista.agulha.nom.br/cordel.html


Que todos façam bom pr

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