quinta-feira, 27 de março de 2014

CONVERSA DE GORDOS
- Oh Pedrão, vamos tomar uma coca?
Era o Carlos, colega corretor, de vez em quando vamos à tarde enfrentar um salgadinho com refrigerante na Pamplona, num restaurante perto da imobiliária.
Fomos.
Ao descer encontramos uma menina maravilhosamente corajosa, pois entrou com a gente no elevador, quer dizer entrou com os 270 kg da gente no elevador.
Já comendo seus três kibes, ele pergunta:
- E aí Pedrão?
- Tudo bem, por onde você andou? já comendo o meu bolinho de ovo
- Estava em Sorocaba, fui ver minha mãezinha que estava gripada.
- Ela melhorou?
- Melhorou! Fiz uma sopa para ela daquelas boas com músculo e verduras. Fiz para ela ficar mais forte. Vim embora para São Paulo dez da manhã e nem tomei a sopa.
- Como veio sem comer nada. Não pode passar fome.
- Sabe Pedrão, ela não pode ficar fraca.
- Caramba Carlos, que idade tem sua mãe?
- Setenta.
- Então você se cuida mais, senão ela vive mais que você ...
- Eu me cuido. Aqui em São Paulo eu tenho todos as utilidades, panelas, fogão, processadores e vivo cozinhando.
- O que você faz?
- Faço muito yakisoba. Pedrão, sabe aqueles legumes já cortados do supermercado, coloco carne de frango, bato um ovo no macarrão depois dele já estar pronto com azeite ... mas faço também muito nhoque com batata rosa, no maior capricho.
- Sei. A batata certa. Mas duvido que seja igual ao nhoque italiano da minha mãe!
- Ué, porque?
- Minha mãe amassava a batata com farinha, depois de deixar secar, passava cada roletinho de massa numa tabuinha riscada para virar o nhoque para dentro, tipo uma concha riscada. Ela dizia que assim o molho ficava dentro do nhoque.
- Caspita. Ela fazia o molho?
- O molho da Palmyra era famoso, se eu te contar, você não fala para ninguém. Para preparar ela pegava uma bacia cheia de água e colocava vinte tomates dentro.
- Para lavar?
- Não era para lavar, era para tirar as sementes. Apertando o tomate dentro da água as sementes espirram para fora do tomate e não fica sementinha nenhuma dentro do tomate. Iam todos para a panela junto de um extrato de tomate Elefante, sal e sempre duas folhas de manjericão para dar o sabor da Itália, entende?
- Ela colocava orégano?
- Colocava mas a gente chamava de areguina.
Com essa conversa de comida toda, já estavamos no caixa pagando, e eu pedindo segredo das pizzas que a gente fazia, sob o protesto do proprietário do restaurante, que insistia:
- Mas se o segredo é banha de porco na massa, você não pode contar alto senão todo mundo fica sabendo!
- Só um pouquinho de banha no meio do disco, coloca o molho de tomate, vai para o forno. O molho é parecido com o de nhoque, mas tem que acrescentar mais louro, mais manjerona, mais alho, óleo, açucar, sal ... e vamos que vamos.
Sempre temos assunto.
Pedro Antonio Cardoso
 
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