O POETA E SUAS ARQUITETURAS INDECIFRÁVEIS
Sempre
Quase sempre
(nem sempre...)
Eu me vejo ridículo
Escrevendo poemas.
Mais ridículo ainda
lendo-os, relendo-os
infinitamente.
A poesia tornou-se uma catarse
maneirista, narcisista, preciosista
masoquista e, para quebrar a rima
um precipício
um verdadeiro estropício
um hospício e mar aberto.
Uma espécie de autoflagelação
ou de endeusamento
sem qualquer encantamento
ou absolvição: a negação da negação.
Ferreira Gullar, por exemplo,
colocou o poema no liquidificador
na sua Luta Corporal.
Tristan Tzara, o dadaísta
usou a tesoura porque não havia
a máquina picotadora
e saiu fazendo colagem de letras
em arquiteturas indecifráveis.
Mallarmé lançou seus dados ao azar
E.E. Cummings construiu edifícios verbais
e Sousândrade violentou a gramática
enquanto Bilac cinzelava versos
os amores imaginários.
Antes, Bécquer elevava-os em seus andores.
Mais perto de nós, Nikolas vonBehr
ventríloquo pelo umbigo
faz discurso libertário – pregando no deserto de Brasília
rebeldia em verso livre, e de livro fora de padrão.
Tem ainda a iconoclastia de Leminsky
a hipocondria de Manuel Bandeira
E a eclesia dos irmãos Campos
Com o concretista Pignareti
na tradição do novo
na renovação.
Passou por mim veloz tal como um trem
Me trouxe rugas e cabelos brancos
E me cortou com faca de dois gumes...
Vivi rotina de sofrer constante
Nos meus sentidos conservei o ser
Minha beleza se escoou no tempo...
Mas eu amei porque era preciso
Fui necessária para minhas crias
A solidão guardei nos meus poemas...
Passou por mim a maldição da vida
Nas emboscadas revelou-se fera
Mas eu poeta transformei-a em verso!
Dorothy de Castro....ESCRITO COM BATOM
E não sabe o que fazer
com a própria liberdade.
(EUGENIO SANTANA)
http://asasdamemoria.blogspot.com/
(Guardião da Palavra)